O que a Microsoft e sites pornô têm em comum?

Pode parecer uma pergunta absurda, mas existe uma relação sim, denunciada pelo pessoal do site open… e pelo pessoal do NoOOXML.com: a prática de Cybersquatting, ou seja, a idéia de, segundo a Wikipedia, “registrar, traficar ou usar um nome de domínio com a má intenção de obter lucros com a boa fê de uma marca pertencente a outros“. Em geral, essa prática é normalmente feita por sites pornôs que (a) tentam obter acessos quando a pessoa digita o nome de um site conhecido de maneira errada ou (b) tentam vender posteriormente os domínios aos verdadeiros detentores da marca registrada em questão por rios de dinheiro. Além disso, há também a prática de scam de redirecionamento, quando você digita uma URL e é redirecionada para outra por meio de scripts. Embora não seja sempre um site pornô e seja uma prática que pode ser legítima (com em sites que mudaram de domínio), ela pode ser usada para levar o usuário a locais indesejados.
Agora, você pode se perguntar: “o que a Microsoft tem a ver com tudo isso?
Ontem, dia 26/03, foi comemorado o Document Freedom Day (Dia da Liberdade de Documentos), ou seja, o dia de defender a liberdade de formatos de documentos e independência de ferramenta ao editar documentos. Para divulgar a iniciativa e criar meios para registrar-se grupos que se organizariam para tomar ações, foi registrado o site http://www.documentfreedom.org.
OK: um grupo conhecido como OpenXML Community (sem links para eles pela sacanagem que fizeram), que se apresenta como “uma comunidade de instituições públicas, empresas, profissionais de tecnologia, acadêmicos e desenvolvedores que suportam o ECMA Office Open XML e (…) acreditam na promoção da escolha, interoperabilidade, inovação e excelência técnica nos padrões de documentos” (conforme o próprio site deles), registrou o domínio http://www.documentfreedomday.COM (perceba o top-level domain comercial, oposto ao .org da iniciativa do Document Freedom Day). Ao tentar acessar essa página, a pessoa era redirecionada a um documento chamado “Dispelling Common Myths About Open XML” (o qual ainda pretendo desmitificar…).
Agora, o que há de errado? É um domínio livre, qualquer um pode pagar para o registrar!“, você pode dizer.
O problema é que justamente quando existe toda uma iniciativa para que o OOXML não seja aprovado (e não por ser da Microsoft, mas sim por ser um formato simplesmente horrível, como eu e vários outros estamos falando a bastante tempo) aparece um grupo realmente astroturf (ou seja, embora aparentando ser algo realmente espontâneo ser algo criado por grupos com os mais diversos interesses) vem tentando minar essa iniciativa por meio de uma técnica que pode ser considerada na melhor das hipóteses um jogo baixo.
Isso reflete muitas questões e mostra os verdadeiros objetivos do OOXML. Como disse anteriormente, toda a questão da ISO é baseada em consensos. Em um processo normal, todas as contradições seriam resolvidas, de modo que o consenso fosse atingido e a votação passasse a ser apenas uma formalização desse consenso formado entre todas as partes. Esse consenso não precisa derivar de um formato perfeito, pois mesmo o ODF não o é, e espaço para evoluções são sempre interessantes.
O problema é que cada vez mais fica claro que a Microsoft não tem como objetivo nenhum consenso ou portabilidade. As “minas terrestres de patentes“, as várias contradições não explicadas, e a confusão entre inter e intraoperabilidade, o fato de um produto não estar sendo usado apenas de formato referência, mas como fundamento para manutenção de falhas graves no formato, devido a escolhas específicas de implementação de recursos (o que é conhecido tecnicamente como artefatos de implementação), e os diversos problemas de “inflação dos NBs” e de obstruções e atritos com aqueles que vão contra o formato OOXML mostra que na realidade a iniciativa de transformar o OOXML em um padrão ISO é apenas uma jogada de marketing da Microsoft:

  • Ela passa a posar de boazinha, mas na realidade pode minar completamente qualquer iniciativa livre de desenvolvimento de parsers e conversores do OOXML para outros;
  • Mesmo que seja possível tais sistemas, eles não teriam o mesmo comportamento que o dos produtos da Microsoft, criando a “dependência de DLLs”, o que em resumo quer dizer que qualquer sistema bom deveria recorrer a DLLs ou bibliotecas da mesma;
  • Cria uma verdadeira aberração jurídica, um lock-in oficializado por meio de um “padrão”;

Como já disse em outros posts e pretendo escrever no futuro com mais tempo: eu não sou contra o OOXML. Ser pró-ODF não é o mesmo que ser contra-OOXML, como foi dito pelo Mark Shuttleworth do Ubuntu (e eu traduzi aqui nesse blog). O grande problema é: o OOXML tem muitas, muitas, MUITAS, MUITAS FALHAS! Existe muita coisa, para dizer o mínimo, estranha no OOXML que simplesmente passou no BRM, devido ao curto tempo e ao tamanho monstruoso da documentação. Artefatos de implementação e coisas bizarras como wrapLikeWord95 (que diz que você deve quebrar linhas como Word 95… sem dizer como isso é feito) e documentos que, uma vez validados contra as DFDs do OOXML ainda assim dão erro (ou seja, existe uma inconsistência entre o formato descrito nas especificações e o descrito pelas DFDs).
Enquanto as coisas estiverem nesse pé, e enquanto a ECMA e a Microsoft não ouvirem as contradições todas e realmente as acertar, concordo com o NÃO dado pelo Brasil, e torço para que outros países sigam a mesma iniciativa. Mas como disse o Jomar, “a guerra continua (e o outro lado está levando a sério a expressão VALE TUDO)“.
Espero que você que esteja lendo entende as coisas e tenha realmente entendido os fatos (sim, a “piada” com Get the facts foi intencional).

Office OpenXML (OOXML) e inapto pela ISO 29500

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Sobre Fábio Emilio Costa
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2 Responses to O que a Microsoft e sites pornô têm em comum?

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