O que define Liberdade de Software em Software Livre?
6 de fevereiro de 2007 1 Comentário
Porém, recente notícia da Reuters que afirma que a FSF poderia estar tomando atitudes para impedir a Novell de vender sua distribuição (termo “equivalente” a variante ou empacotamento) do sistema operacional Linux pode ser um estopim negativo para a FSF, uma vez que isso meio que derruba por terra o mote do SL.
Por que a FSF estaria fazendo isso é uma pergunta com resposta óbvia: seria uma “vingança” pela suposta “traição” da Novell, ao esta ter entrado em um acordo de interoperabilidade com ninguém menos que a Microsoft. Depois de diversas reações negativas, como o protesto dos desenvolvedores do SaMBa e do pessoal da FSF, esse anúncio foi o primeiro anúncio de represália real contra o acordo Microvell.
OK, e qual minha opinião disso tudo? Ela é simples: se a FSF tomar essa atitude, ela estará fazendo mais mal para o Software Livre do que bem.
Antes que os trolls venham me acusar de vendido e de alienado ou de qualquer outra coisa, vamos aos fatos:
- A própria definição de liberdade adotada pela FSF determina que um software deve obedever a alguns critérios para ser considerado livre, a saber:
- A liberdade de executar o programa, para qualquer propósito (liberdade no. 0)
- A liberdade de estudar como o programa funciona, e adaptá-lo para as suas necessidades (liberdade no. 1). Acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta liberdade.
- A liberdade de redistribuir cópias de modo que você possa ajudar ao seu próximo (liberdade no. 2).
- A liberdade de aperfeiçoar o programa, e liberar os seus aperfeiçoamentos, de modo que toda a comunidade se beneficie (liberdade no. 3). Acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta liberdade.
Como podemos ver, a Novell não está, de forma alguma (ao menos até onde sei), violando quaisquer desses direitos. Na realidade, como a própria FSF afirma em seu site, não é contra nenhuma dessas liberdades revender um pacote de software livre. Como ela afirma em seu site em um outro artigo:
Vender Software Livre – O Projeto GNU e a Fundação pelo Software Livre (FSF)
Exceto para uma situação em especial, a Licença Pública Geral da GNU (GNU GPL) não especifica o quanto pode ser cobrado para distribuir uma cópia de software livre. Você pode cobrar nada, um centavo, um dólar ou um bilhão de dólares. Depende de você e do mercado, portanto não reclame conosco se ninguém quiser pagar um bilhão de dólares por uma cópia.A única exceção é o caso em que binários são distribuídos sem o correspondente código fonte completo. Aqueles que fazem isso são obrigados, pela GNU GPL, a fornecer o código fonte atendendo a pedidos posteriores. Sem um limite para a taxa pelo código fonte, eles poderiam determinar uma taxa tão grande a ser paga — como um bilhão de dólares — e, portanto, fingir que disponibilizam o código fonte, enquanto que, na verdade, o escondem. Então, nesse caso, devemos limitar a taxa pelo código, a fim de garantir a liberdade do usuário. Em situações comuns, entretanto, não há motivos para limitar taxas de distribuições, portanto, não as limitamos.
- No lado MS, não vejo também problemas, até porque isso iria contra as ambições das gigante de Redmond. Não se deixe levar pelos comentários de Steve “Developers” Ballmer. Por mais que a MS fale isso, ela tem ferrolhos que iriam a prejudicar em uma possível tentativa de “ferrar” o software livre:
- Primeiro, tem o fato de que ela tem uma disputa contra o Open Document Format (ODF), que ela quer vencer a todo custo com seu Microsoft OpenOffice XML (MSOOXML). Uma das partes do acordo seria que a Novell contribuiria com a integração das soluções Linux a esse formato de arquivo. Ora, quando falamos nisso, queremos dizer Abiword, OpenOffice.org (BrOffice.org) e KOffice. Além disso, existe a questão dos movimentos da MS para tornar o OOXML um padrão ISO, como já o é o ODF. Existe uma coisa importante aqui: se a MS tornar o OOXML um padrão, ela não terá como escapar da liberdade. E mesmo que não consiga, se quiser interoperar com os softwares citado, os códigos deverão ser licenciados segundo licenças livres ou, na pior das hipóteses, abertas, o que permitiria seu estudo e a geração de códigos livres;
- Acredito que a GPL, combinada aos princípios do SL citados anteriormente, deixam as regras claras sobre o tipo de coisa a ser feita. São regras simples e, como toda regra simples, são fortes e fáceis de serem “reforçadas”. A idéia é que, por mais que a MS possa tentar Abraçar e Extender o OOXML, muitos recursos básicos ficariam a salvo disso, e no final das contas acabaria pouco interessante para a MS, uma vez que os recursos avançados não poderiam ser acessados, o que criaria um crescente desconforto em relação a tudo isso e quebraria a compatibilidade, o que resultaria em farpas sérias contra a MS;
- A questão mercadológica do FLOSS (Free/Libre/Open Sourced Software) está cada vez mais evidente, assim como suas vantagens e desvantagens. Se os pioneiros se atiravam nas migrações procurando um Santo Graal financeiro, atualmente as migrações serão cada vez mais “puritanas”, com planejamento, treinamento e afins. A MS não tem tanto a perder nisso quanto se imagina: claro que acontecerão movimentos de volta, e não é nosso foco aqui comentar isso. O importante é que a MS está percebendo que o cliente quer interoperabilidade, e que isso é importante, como disse Ian Murdock. Na realidade, a interoperabilidade é um processo sem volta no mercado da informática;
- A MS ainda é mal vista pelas suas práticas monopolistas. Não falo aqui apenas de processos por monopólio. A questão agora é a imagem que a MS está tendo, e que está cada vez mais arranhada. Ela tem que tomar muito cuidado com as suas atitudes, pois agora, por incrível que possa parecer, a “mão invisível”, para tomar emprestado o termo de Adam Smith, está contra ela. Ela pode “apagar incêndios” com acordos aqui e ali, mas ela ainda é mal vista, e isso pode ser um fiel na balança;
Quando falo que a FSF pode se prejudicar, digo que isso se deve ao fato de SL envolver também a possibilidade de redistribuir o mesmo (Liberdade 2). Se nenhuma violação à GPL for detectada, não há como, sem violar os próprios princípios que defende, a FSF impedir que a Novell redistribua qualquer software livre. O fato de formar um acordo com a MS não é considerado violação da GPL, e nem o uso de patentes que tenham declarado-se royalty-free. E existe uma coisa: uma patente royalty-free não pode começar a cobrar royalties retroativamente em nenhum sistema jurídico que reconheça o princípio do direito adquirido.
Não acredito que a FSF tome uma atitude como essa e que, caso ela tome, ela ganhe algo com isso. Existe uma questão aqui que é outra liberdade, a de escolha. Se a FSF partir para uma atitude como essa, estará interferindo na liberdade de escolha do usuário, o que irá provocar mais danos à FSF do que à MS ou à Novell. Pelo que se saiba, quem tem o hábito de estrangular a liberdade de escolha dos usuários é a MS. Será que a FSF deseja tanto assim pegar a mesma reputação da MS?
O assunto ainda vai dar o que falar, mas creio que vai acabar em nada. Sou um otimista por natureza, e creio que nem MS, nem Novell, nem FSF têm interesse em ver uma guerra explodir por causa desse acordo. A MS tá manchada demais para entrar nesse tipo de escaramuça, a Novell não tem poder de fogo para tanto mesmo com o Microvell e tudo o mais, e a FSF teria sua imagem e sua credibilidade arranhada. Basta ver que mesmo RMS afirma que o acordo Microvell não viola a GPL. Desse modo, duvido que haverão ações contra o acordo Microvell, ao menos a curto prazo.
Por fim, acredito que a FSF perceberá que ela criou regras claras, e que essas regras devem valer para todos. Espero sinceramente que isso se resolva da melhor maneira possível. Acredito que FSF, Novell e MS têm muito a contribuir com o SL e com a Informática como um todo, desde que compreendam que, como diria Arnaldo Césa Coelho, “A Regra é Clara!”
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Concordo com seu ponto de vista … mas, nem sempre as regras são respeitadas neste jogo.